quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nothing like a little disaster for sorting things out.



'E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir'




imagem do filme "Blow Up", de Michelangelo Antonioni, 1966.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

3 de JUNHO.



"aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivámos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta

nem a vida nem o que dela resta nos consola
e a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos mas não voltaram
a telefonar"


"sida" de Al Berto


terça-feira, 29 de março de 2011

____________________________________________________________________ OLÉ!



desperto do longo estado de hibernação com sinais vitais excitados :


PRITZKER -----> Eduardo SOUTO MOURA 2011.


recorto a notícia da página de jornal e estampo a figura no meu wall of fame, a preceder Zumthor e Mendes da Rocha.


“During the past three decades, Eduardo Souto de Moura has produced a body of work that is of our time but also carries echoes of architectural traditions.” And further, “His buildings have a unique ability to convey seemingly conflicting characteristics — power and modesty, bravado and subtlety, bold public authority and a sense of intimacy —at the same time.”


tão merecido.
ontem só sorria com isto, hoje é dia para pisar o chão com segurança acrescida. porque se foi um chá para o meu ego, imagino para o próprio - deve ter sido de questionar a lei da gravidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

equinócio



::: de outono, ou será de primavera ? ... quero eu dizer:


http://www.oasrn.org/cultura.php?id=239

se liga na real ! 




sábado, 11 de setembro de 2010

fever


girl, you'll be a woman soon:



but, while it's fiction, let's get ready



and, honey, the party doesn't start until i arrive.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

in a daze

sometimes a girl gets dazed







wonders about the why's, suspects on herself, and when it gets to the point of time to freeze it's the exasperation that puts on your skin some other identity further



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

de te ver.


Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas a dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho de manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser a solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver na minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
e penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando não te via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontros
em que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e não me vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão da escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido


(MURIEL, de Ruy Belo, em TODA A TERRA)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

teaser


é esta a minha pele: texturada, rugosa, perfurada, irregular e queimada. no interior decorrem todos os processos que uma cabeça exacerba. fico em mim por muito tempo, e a paranóia percorre todos os orgãos, espaços e vazios do meu lugar - refúgio. o meu cérebro pensa tudo, numa associação total e multiplicação indevida - acredito que algumas coisas devem ser agrupadas com critério.
canso-me da minha metade sonâmbula à vida. canso-me da metade do nada. e canso-me de estar cansada.
errático ritmo sincopado, intermitente.
dos devaneios, das paranóias, das extremidades desgastadas desafio-me: a ser um intruso em mim.
  
esperei por um dia como este, para dizer adeus, de longe, e por enquanto. àquele problema ubíquo da regra: nenhuma. 


exagero e quero tudo ao mesmo tempo. agora, tudo aquilo que neguei.


i'M TEASING MYSELF





terça-feira, 13 de abril de 2010