segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

para uma arquitectura



"Procure o sr. Cabral do Nascimento ter sempre este facto tão presente, que não saiba que o tem presente - que uma obra de arte, por dispersa que seja a sua realisação detalhada, deve ser sempre uma cousa una e organica, em que cada parte é essencial tanto ao todo, como às outras que lhe são annexas, e em que o todo existe syntheticamente em cada uma das partes, e na ligação d'essas partes umas às outras. Comprehenda isto até á inconsciencia. Sinta isto até não o sentir. E, sentido e comprehendido isto até com o corpo, despreze todo o resto. Salte por cima de todas as lógicas. Rasgue e queime todas as grammaticas. Reduza a pó todas as coherencias, todas as decencias, e todas as convicções. Feita sua aquella, a unica regra de arte, pode desvairar à vontade, que nunca desvairará; pode exceder-se, que nunca poderá exceder-se; pode dar ao seu espirito todas as liberdades, que elle nunca tomará a de o tornar mau poeta.

O resto é a literatura portugueza."

Fernando Pessoa, a Cabral do Nascimento

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