terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

à tempestade


volto a Baudelaire, ao sentir o crescimento do valor da intimidade quando a casa é a atacada pelo inverno.
"Les Paradis Artificiels" - quando descreve a felicidade de Thomas Quincey, enclausurado no inverno, enquanto lê Kant, ajudado pelo idealismo do ópio.
"Uma bela habitação não torna o inverno mais poético, e o inverno não aumenta a poesia da habitação?"
Fixo-me na imaginação do repouso.
É um momento fotográfico com um plano centralizado: a tranquilidade para um comedor de ópio, que ao ler Kant, concilia a solidão do sonho e a solidão do pensamento.
Assim, aceito os devaneios de repouso que o inverno sugere. Até porque o sonhador pede um inverno intenso.
Mas, agrada-me o inverno enquanto reforço da felicidade de habitar. Do inverno surgem em casa intimidades multiplicadas.
Tento recusar o repouso... e alimento-me de um à vontade protegido, de ideias.
Ganho certeza quando ouso sair à rua. Vou altiva, porque deixei em casa toda a delicadeza, com a certeza de um objectivo traçado fora dela. É fora que liberto alguma fúria, assim como é fora dela que a tempestade tem mais força.
Encaro e luto com a tempestade a céu aberto. Produzo, alimento devaneios, e rodopio em pensamentos encerrada dentro de casa-abrigo.
casa-potência.

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